Caê fala sobre o álbum “Estação Sé”

Como surgiu a ideia do álbum “Estação Sé”?
“Estação Sé” simboliza a possibilidade de encontros e desencontros naquele lugar, naquela estação; momento-vagão. O desejo e a impotência que coexistem, quando sonhamos e vivemos, na realidade, as nossas vidas. Essa idéia tem muito a ver com a minha vinda pra São Paulo. Acho que nessa época que começa essa história do “Estação Sé”. A canção mais antiga do disco é de 2001, ano em que eu mudei pra capital.

Esse pensamento tem uma forte ligação com São Paulo, certo?
Sim. Acho que quem, assim como eu, veio pra São Paulo em busca do seu sonho, e ao chegar aqui se sentiu, muitas vezes, só e impotente, sonhar a cidade é um exercício de sobrevivência, como artista e como cidadão. A Estação Sé do metrô ainda me causa esse delírio de sonho, da imagem surreal que é para quem vem do interior, ao ver a cidade pela primeira vez. Ali está o sonho do artísta, do engraxate, do executivo; o sonho do amor, da sorte, do azar, o sonho de um despertar em relação à cidade.

Sonho é um conceito recorrente no álbum. Por quê?
Não por acaso, o disco começa com a frase “Sonhou que a terra enfim se incendiou…”. As letras de “Estação Sé” conduzem por atmosferas de sonho e usam aquele momento da iminência do despertar como uma ponte entre o tempo real e o tempo imaginário. A canção “Do avesso” também fala disso, de uma sorte de sonho, com verso “Voltar o tempo ao meu prazer/ e refazer um tempo sem lugar”; esse “um tempo sem lugar” é, enfim, um tempo meio irreal. “Estação Sé” é um sonho de desejo e impotência; “Sal do mar” é um despertar; “Flores Azuis” termina com essa expressão da imagem onírica dos românticos. Outra música que, de certa forma, também se refere ao subconsciente é “No tambor de Crioula”, que conta uma experiência de transe de possessão e um delírio espiritual, de sua ancestralidade.

A faixa “Flores azuis” chama a atenção pelo lirismo e pela letra. Qual foi sua inspiração?
“A flor azul” também é um nome dado a um romance inacabado de Novalis, escritor da primeira geração romântica alemã. Por se suicidar antes de acabar esse livro, chamaram a obra inacabada de “Romance da Flor Azul”, que a partir daí virou um símbolo da busca pelo inatingível, o sublime e o eterno. É a sina da imperfeição dos modernos, a busca por algo inexistente ou irreal, conforme escreveu Albert Béguin em “A alma romântica e o sonho”.

Isso também tem a ver como o ambiente da cidade, de seu futuro?
Na cancão “Flores azuis”, há uma espécie de dissolução da cidade em ruínas que termina com essa imagem. Simboliza também, a aflição do homem no presente em relação ao seu futuro e das cidades. No fundo, nós, homens modernos, almejamos as flores azuis, precisamos dessa imagem onírica, para seguirmos sonhando, buscando o que não pode ser alcançado. É a vida do artista e de todo cidadão.

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